Hoje também é o dia mundial contra o trabalho infantil, um dia longe de ser celebrado. Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), existem cerca de 168 milhões de crianças e jovens trabalhando no mundo. Destes 168 milhões, 20 milhões são crianças com idade entre 5 e 14 anos.
Nesse momento, me permito uma pausa para um relato pessoal sobra a viagem que fiz ao Rio mês passado: estávamos eu e meu namorado no McDonald's da Nossa Senhora de Copacabana quando eu reparei num menino.... aliás, menino não, um bebê com seus, no máximo, 3 anos. Me abordou e me fez duas perguntas: "-Tia, compra uma bala?" e, com a minha recusa, "Tia, compra uma batata para mim?". Apesar do aperto no coração, da vontade de chorar, de pegar aquele serzinho lindo no colo e falar que ficaria tudo bem, também não comprei. Eu tinha visto o menino na entrada do estabelecimento cercado de marmanjos.
Longe de mim querer beatificar os pais do garoto, mas também não quis julgá-los. Eu não sei pelo que eles passaram na vida e nem quantas balas tiveram que vender quando crianças. Mas ao ver aquele menino, com o olhar tão inocente, pidão, cheio de desejos ao olhar as outras crianças comendo felizes com seus pais e brinquedos do lanche surpresa (e lembrando disso agora me escorreu uma lágrima), me perguntei como existe ainda pessoas que acreditam que aquela criança terá as mesmas oportunidades de vida que as crianças felizes com seus pais e brinquedos. A começar porque ele já não é mais criança. Teve sua infância roubada e usurpada. Não, ele já não é mais uma criança. Aliás, talvez nunca tenha sido.
Voltando a dados oficiais e ao mesmo tempo voltando à realidade do pequeno carioca, tenho um novo dados para os que odeiam cotas raciais: outra cota. Sim, a maioria das crianças que são submetidas a trabalhos infantis são negras. No Brasil, 5,8% de meninos negros entre 5 e 15 anos desenvolvem algum tipo de trabalho. Entre as meninas negras, essa taxa é de 2,9%. E, para uma outra "surpresa", os números maiores ficam em estados no Norte e Nordeste do país.
Fonte: Reportagem
Não coincidentemente, a população carcerária brasileira é em sua maioria negra, fazendo com que os que tem preconceito, mascarado ou não, se baseiem neste tipo de dado para embasar sua tese de superioridade da raça branca. Mas te peço uma reflexão: eles estão lá por SEREM inferiores ou estão lá por serem TRATADOS como inferiores? É de uma hipocrisia gritante achar que eles e nós tivemos as mesmas oportunidades. "Ora, mas tem um primo de um amigo do meu tio que nasceu pobre, negro e favelado e hoje é CEO de uma multinacional". Que ótimo para ele! Mas ele faz parte de uma minoria. Um exceção à regra. Porque crianças, como o carioquinha, nascem condenadas a serem marginais e marginalizados.
Como, então, podemos combater o trabalho infantil? A solução é muito simples. Uma tecnologia sensacional, que diminui inclusive o número da população carcerária: Educação. Educação de qualidade. E não falo apenas sobre português, matemática, ciências. Falo sobre desenvolvimento físico, mental, social. Por que ao invés de discutirmos redução da maioridade penal (um negócio muito lucrativo para alguns), não discutimos sobre a situação emergencial que a educação de base do nosso país se encontra. E isso não sou eu que falo: a própria OIT, através de seu diretor, declarou que a maior arma contra o trabalho infantil é a educação de qualidade. Cabe a nós, cidadãos bem informados, lutar por essas crianças. Aliás, trata-se de um dever ético e moral que nós lutemos por elas.
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